Momento II

O II Momento de Abertura do Museu Zer0 marca a continuidade de um processo de construção artística, institucional e simbólica, iniciado pelo fundador, cujo pensamento e visão deram origem a um projeto único no contexto nacional e internacional.

Mais do que uma exposição, este momento é a afirmação de um Museu em movimento, onde arte, tecnologia, comunidade e território se entrelaçam num diálogo que envolve o local, o global e a contemporaneidade. Esta nova fase do Museu reflete o trabalho desenvolvido no âmbito das Residências Artísticas, apoiadas pela Fundação MEO, que proporcionaram a artistas a oportunidade de investigar, experimentar e criar in situ, consolidando a identidade do Museu Zer0 como espaço de pensamento, produção e partilha. A programação apresenta, ainda, um conjunto de obras inéditas e revisitações experimentais que ocupam os diferentes espaços do Museu — da entrada ao terraço, dos silos à sala imersiva, configurando um percurso intergeracional e transdisciplinar, onde a criação contemporânea se manifesta em múltiplas linguagens: visuais, sonoras, cinéticas, imersivas e digitais.

O programa do II Momento de Abertura do Museu Zer0 inicia-se com dois momentos pontuais, mas profundamente simbólicos para a história e para o futuro do Museu. O primeiro é o encontro entre a Sonoscopia e os “Resistentes”, grupo de música tradicional portuguesa de Santa Catarina da Fonte do Bispo — uma performance coletiva que une a experimentação sonora contemporânea às raízes musicais da comunidade local. Esta colaboração, nascida do diálogo entre o património imaterial e a pesquisa artística, dá o mote à abertura do II Momento do Museu Zer0, reafirmando a sua ligação ao território, à cultura popular e à comunidade. O segundo momento é Sil0, obra audiovisual em vídeo mapping criada pelos Openfield (2025), que transforma a arquitetura singular dos silos do Museu Zer0 num organismo vivo de luz e som.

“Esta intervenção site-specific revela camadas visuais e sonoras que dialogam com a estrutura original, a sua materialidade e a sua memória. Inspirada no conceito fundador do Museu Zer0 — museu de arte digital que parte da ideia de origem, vazio e potencial, Sil0 cria uma ponte entre o mundo real e o digital, entre o visível e o imaginário, propondo uma viagem sensorial que transforma o edifício em metáfora da própria essência do Museu: um espaço de transformação, experimentação e plenitude.”

Na entrada, Inês Mendes Leal, com a obra Barlavento / Sotavento, evoca a linha imaginária que separa o Algarve em duas metades — ocidental e oriental, uma divisão moldada ao longo do tempo pela ação dos ventos e pela geografia do território. O termo “barlavento”, de “origem náutica”, indica o lado que recebe o vento, remetendo para o sopro que vem do oeste e que há séculos marca o clima e o ritmo desta região. Ainda na entrada, o dispositivo Memória Permanente, de byAR, propõe uma experiência de realidade mista, tornando visíveis a história do edifício, as memórias e os conteúdos tridimensionais que se projetam no espaço físico e digital do Museu. Nos silos, a instalação Trapped Ecologies, de Francisca Rocha Gonçalves e Christian Dimpker, transforma o espaço industrial num organismo sensorial. Feita de redes, projeções, fumo e som, a obra reflete sobre os ecossistemas naturais e artificiais, e sobre a forma como o humano interfere e se inscreve nas suas dinâmicas — uma reflexão que toca diretamente nos desafios ambientais e tecnológicos contemporâneos e na urgência de um pensamento artístico comprometido com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Na Sala do Órgão, temos dois trabalhos, Luís Fernandes apresenta Dispositivo Aural #2, onde o som se converte em matéria e arquitetura, numa investigação sobre frequência, ressonância e perceção. O outro é 1:2, de Tatiana Macedo, uma instalação vídeo que parte da relação entre o olhar, o corpo, o lugar e a imagem. Através de uma montagem subtil e ritmada, a artista questiona o espelho e a duplicação, a presença e a distância, convocando o espectador para uma experiência íntima de observação e deslocamento. Na Sala de Exposições, um conjunto de obras estabelece uma cartografia de práticas contemporâneas: JEZABEL, de Carincur, João Pedro Fonseca e Gonçalo Guiomar, é uma instalação cinética e lumínica onde robótica, inteligência artificial e matéria orgânica se fundem num corpo híbrido em movimento.

JEZABEL habita o espaço como uma presença viva e enigmática, onde o som, a luz e o gesto mecânico dialogam com a perceção humana. A obra propõe uma reflexão sobre os limites entre o natural e o artificial, entre o corpo sensível e a máquina pensante, uma espécie de organismo artístico em permanente transformação. % (static), de Pedro Tudela, apresenta dois discos de ferro amplificados e postos em vibração, que transformam o som em matéria física e tensão espacial. Nesta peça, o ruído, o eco e a reverberação constroem uma paisagem sonora densa, onde a escuta se torna experiência tátil. % (static) expõe o som como energia e corpo, convidando à perceção das suas formas invisíveis e ao modo como estas se inscrevem no espaço e no tempo.

Paisagens finitas ou memórias de um lugar onde não fui, de Mariana Vilanova, é uma instalação-vídeo que explora a memória, o tempo, a ausência e o que andamos a fazer à terra. Através de imagens projetadas e som, constrói um território emocional onde o real e o imaginado se confundem. A obra propõe uma reflexão poética sobre a construção de lugar — entre o registo e a lembrança, a imagem e a experiência – todavia, Mariana alerta-nos: “Temos a ideia de que o digital é imaterial e que por isso teremos acesso quase eterno à informação, mas o mundo digital depende de componentes eletrónicos feitos com metais raros presentes no solo terrestre, como o ouro e o lítio, o que pode tornar esse acesso efémero e insustentável.”

VVV (Zero), de Pedro Tudela & Miguel Carvalhais, é uma instalação sonora e luminosa que cria um diálogo espacial entre diferentes fontes de som e luz. Um altifalante suspenso e um conjunto de três altifalantes dispostos no chão estabelecem um jogo contínuo de chamadas e respostas, em movimento circular, que envolve o visitante e transforma o espaço em corpo acústico e visual. Atlas – (Chuva), de Francisco Pedro Oliveira, combina som, vidro, metal e vibração, transformando o espaço numa superfície ressonante. O som, amplificado e refletido por materiais distintos, cria uma paisagem sensorial líquida e pulsante, onde o ouvido e o corpo são atravessados por ondas e frequências.

No Centro de Criação e Experimentação Artística (CECA), José Jesus apresenta Physical Blue at the Door (Landscape as Engine), um trabalho que reflete sobre a paisagem como motor de pensamento e energia. O artista combina vídeo, impressão 3D e movimento mecânico para criar uma escultura viva que respira entre natureza e tecnologia.

Na Sala Polivalente, Miguel Soares mostra SpaceJunk (2001), obra emblemática da arte digital portuguesa, que ironiza a conquista espacial e a acumulação de resíduos tecnológicos. Esta obra foi escolhida por Sérgio Mah, sendo a mesma da coleção de arte da Fundação EDP.

No terraço, decorre o Cinema em Ciclo, com curadoria de António Costa Valente, em parceria com os 29.º Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia (AVANCA) — uma extensão da programação que reforça o diálogo entre imagem em movimento e media arts.

Na Sala Imersiva, MAOTIK apresenta Where Land Ends, Everything Flows, uma instalação de arte generativa que transforma dados e paisagens digitais em experiência sensorial e envolvente, evocando a relação entre o humano e o planeta, entre o natural e o tecnológico.

Em diálogo transversal com toda a programação, o Professor Henrique Silva, figura central da arte portuguesa, apresenta uma seleção de vídeos do seu arquivo pessoal, com curadoria de Henrique Silva e Emília Simão — obras que evocam os primórdios da videoarte em Portugal, incluindo peças históricas do VideoPorto e de artistas como Ção Pestana e Silvestre Pestana.

O II Momento de Abertura do Museu Zer0 é, assim, uma celebração do fazer artístico como processo, onde a experimentação, a tecnologia e o pensamento crítico se cruzam com a memória, a imaginação e a responsabilidade coletiva. O Museu Zer0, enquanto Centro de Arte Digital, assume uma visão humanista e contemporânea, comprometida com a sustentabilidade, a inclusão, a educação e o acesso à cultura — princípios que se alinham com os ODS e com a convicção de que a arte deve servir o conhecimento, a comunidade e o futuro.

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